Nesta última semana, a aviação brasileira foi surpreendida com a LATAM Brasil anunciando a retirada de sua mais moderna aeronave widebody, o Airbus A350-900XWB. A frota era composta por 13 aeronaves que haviam recebido as matrículas como iniciais PR-XT*.
Para que possamos entender como a LATAM chegou até a encomenda de 22 Airbus A350, vamos fazer uma breve viagem no tempo, visto que as encomendas do modelo foram realizadas quando a empresa ainda era a TAM Linhas Aéreas.
TAM Linhas Aéreas
A TAM Linhas Aéreas, como foi chamada a partir de 2000, operava uma frota exclusivamente de aviões da Airbus desde 1998, com uma parte de presença dos Fokker 100. Mas antes disso, até 1996, o Brasil não operava aeronaves Airbus rotineiramente.
O último avião da Airbus operado por uma companhia aérea brasileira foi o A300 pela VASP e pela Varig na década de 80.
A TAM era dividida naquela época em TAM Regional (Base Congonhas) e TAM Meridional, originária da principal empresa brasileira, com base no Aeroporto de Guarulhos. Além disso, a TAM contava com o braço Mercosul, originária da Lapsa do Paraguai. O grupo atuava praticamente em todos os mercados de aviação, o regional, doméstico e internacional.
A chegada do primeiro Airbus A330-200 colocou a TAM na rota do mercado internacional, se tornando também uma das primeiras empresas no mundo a operar o modelo. Com isso como citamos, a TAM ou a adotar o Linhas Aéreas ao seu nome e unificou todas as empresas em uma só marca, a empresa ganhava força a partir dali.
Com o excelente relacionamento com a Airbus, a TAM manteve a soberania da fabricante em sua frota até os dias hoje. O A330 se tornou o carro-chefe para voos internacionais da TAM, que chegou a operar 22 aviões do modelo.
Com a TAM ambiciosa pelo mercado internacional, àquela altura a empresa já era a líder do setor, durante os problemas financeiros enfrentados pela Varig. As rotas para Europa e América Central e do Norte caíram no colo da companhia fundada por Rolim Amaro.
O ano de 2006 foi extremamente importante para ‘The Magic Red Carpet’, pois vendo sua principal concorrente praticamente falindo, após a Vasp e Transbrasil, a TAM precisava reagir e se consolidar como empresa bandeira do país.
Além dos Boeing 777 encomendados, em 2005, a empresa se tornava a primeira da América Latina e uma das primeiras do mundo a encomendar o Airbus A350-900XWB.
O acordo foi para 22 aeronaves do modelo mais moderno da Airbus até então, as entregas previstas para iniciar em 2015. Na época o Airbus A350 era apenas um projeto do A330 equipado com os motores do novo Boeing 787 Dreamliner e outras atualizações, mas o projeto foi mudando ao longo dos anos a partir do insucesso do A340 e do A380.
Chegada do primeiro A350 das Américas
O primeiro novíssimo Airbus A350-900XWB (Clique aqui e veja mais) chegou no final de 2015, este era o 1º da América Latina, tornando a TAM a 4ª empresa a operar o avião no mundo todo. A empresa era uma das poucas até então a operar dois aviões concorrentes, no caso o B777 e o A350.
Na ocasião apesar de ser a identidade visual vermelha da TAM, a empresa já fazia parte da LATAM Airlines Group, que se originou a partir da fusão em 2012. O novo avião foi recebido em Belo Horizonte, no Aeroporto Internacional de Confins, com muita expectativa, pois era (e ainda é) um dos mais avançados aviões em operação.

Naquela época o último grande avião entregue pela Airbus para a TAM foi o A330-200. Até então a companhia só tinha recebido os 777-300ER, porém, a partir da Boeing.
O A350, que nasceu para ser substituto do A330ceo, causava na época uma expectativa sobre o futuro dos ainda novos Boeing 777-300ER. O projeto entregue para a TAM era bem próximo ao avião da Boeing, e distante do A330, que sairia de operação definitivamente em 2016.
Pela mudança de projeto do A350 em 2008, a LAN enviou entre 2012 e 2015 novos Boeing 767-300ER para a TAM operar no Brasil, no lugar dos antigos Airbus A330ceo. Enquanto isso, o A350 se encaixava estranhamente com um avião próximo, o Boeing 777-300ER, aumentando a oferta em rotas internacionais de alta demanda.
Uma curiosidade: Após a fusão da TAM com a LAN em 2012, os novos aviões wide-body da companhia brasileira aram a vir sem o famoso ‘The Magic Red Carpet’ próximo ao cockpit, mas não deixava de ser uma mágica combinação das curvaturas do A350 com o vermelho e o pássaro da TAM.
“O A350 XWB nos traz o melhor dos dois lados, complementando nossa frota eco-eficiente existente e o melhor em tecnologia de aviação para garantir níveis ainda maiores de conforto para nossos ageiros”, disse Claudia Sender, CEO da TAM na época.

O Airbus A350XWB é uma nova geração de aeronaves comerciais, neles inclui diferenciais não presente na anterior, como estrutura e asas feitas com materiais compostos em maior proporção, sistema Full-Fly-By-Wire, iluminação da cabine em led e projeto reformulado para redução de ruído abordo, além da nova geração de motores até 25% mais econômicos em comparação com o A340, que substituiu na Airbus.
Até 2018 a LATAM como já era chamada a empresa, tinha pedidos para a versão -1000 do A350, porém converteu as mesmas para a versão -900. Essa foi uma das ações da LATAM diante da crise que ainda arrendou 4 aeronaves para a Qatar, que se tornava acionista da companhia.
Em 2020 a Delta se torna parceira comercial da LATAM e fica com as encomendas restantes para o modelo, além de pagar US$ 62 milhões por 4 aviões. Com isso, a LATAM ficou com 13 aeronaves em operação.
Uma despedida precoce

Quando a LATAM recebeu seus primeiros A350, o cenário era completamente diferente do que vimos e vivemos hoje em dia. Hoje, 2021, as companhias aéreas do mundo todo estão lutando para sobreviver e tentar se manter com o pouco de receita que estão gerando. Frotas estão sendo completamente reformuladas e alteradas, com a LATAM não seria diferente.
Pelo tamanho do Grupo LATAM Airlines, os custos são um pouco elevados pelo tamanho da malha e a diversificação da frota. O Boeing 767-300ER foi a única aeronave em comum entre todas as empresas do grupo, e até hoje é o ideal para diversas rotas da empresa tanto é que a divisão cargueira opera apenas o modelo.
O avião mais moderno da frota da LATAM Brasil até então, não tinha condições de enfrentar toda a crise até mesmo em voos domésticos de grande demanda.
Em uma grande surpresa, o atual presidente da LATAM comunicou a seus colaboradores que a aeronave seria retirada de forma imediata, e pela primeira vez na história da companhia brasileira, a frota de longo curso seria formada por aviões da Boeing.
O A350 encantou a todos pela sua carinha de ‘Guaxinim’, seus detalhes modernos além do conforto a bordo. Mais prático e avançado para quem opera e quem pilota essa máquina incrível da Airbus, nem mesmo na concorrente ele sobreviveu.
Em breve será a última vez que teremos o prazer de ver um avião desses com a pintura e marca LATAM. Todos os 11 restantes ainda estão no Brasil, mas devem deixar o país ainda neste mês.
O único avião a não vir com o ‘The Magic Red Carpet’ durou menos do que qualquer outro vindo de fábrica, outro modelo a operar tão pouco foi o McDonnell Douglas MD-11 que era apenas um empréstimo curto da Boeing.
Na aviação os tempos mudam rapidamente, até outro dia o Boeing 777 era o cotado para deixar a empresa e hoje é uma das principais aeronaves. Esperamos que esses momentos voltem a ficar favoráveis para todo o mundo, quem não gostaria de voar e ver aeronaves novas e modernas voando pelo Brasil por empresas brasileiras? O A350 durou pouco mas trouxe uma excelente experiência.