Caça centenário Fokker D.VII retorna ao lar na Europa

Fokker D.VII

Em setembro de 2025, o Museu Nacional Militar da Holanda (NMM) receberá uma grande adição a sua coleção: um caça Fokker D.VII, um dos raros exemplares originais deste modelo ainda em existência no mundo. A aeronave será cedida pelo Deutsches Museum, de Munique, durante um período de cinco anos, integrando a coleção de objetos bélicos da instituição holandesa.

Desenhada durante a Primeira Guerra Mundial para o serviço aéreo alemão (Luftstreitkräfte), o D.VII foi um dos modelos de aeronaves militares mais avançadas a participar daquele conflito, servindo posteriormente também com diversas forças aéreas no período de paz latente dos anos 20.

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O modelo que participará do intercâmbio é o Fokker D.VII D-28 (c/n 4404/18), uma aeronave com uma história única. Entregue ao Serviço Aéreo Naval Holandês (Marineluchtvaartdienst, ou simplesmente MLD) em janeiro de 1920, a aeronave permaneceu em registro militar ativo até 1937, quando foi estocada para fazer parte de um futuro museu da aviação holandês.

No entanto, tal plano teve que ser adiado devido a Segunda Guerra Mundial e a invasão dos Países Baixos em 1940 por forças alemãs. Para o D-28, isso significou uma nova vida em um novo país, visto que a aeronave acabou sendo confiscada pelos nazistas e, posteriormente, traficada para dentro da Alemanha.

O principal interessado na aeronave acabou sendo Hermann Göring, chefe de Estado-maior da Luftwaffe e ex-piloto de caça da primeira guerra mundial, que inclusive pilotou o modelo durante o conflito. O principal objetivo com a apreensão do Fokker pelos nazistas era contar com o D-28 como uma das peças de destaque do Deutsche Luftfahrt Sammlung, um enorme museu localizado em Berlim dedicado ao culto da aviação alemã.

No entanto, em mais uma mudança abrupta de caminhos, o D-28 nunca chegou ao seu destino, visto que a aeronave acabou sendo encontrada ao final do conflito guardada em um armazém na pequena cidade bávara de Vilsbiburg, quase 500 km distante do lugar onde a aeronave era para estar teoricamente exposta!

Por conta do caos pós-guerra e a falta de documentos que comprovassem a procedência da aeronave, o caça acabou sendo entregue pelos aliados aos cuidados do Deutsches Museum, que incorporou o Fokker a sua coleção nos anos 50.

Somente na década de 80, quando a primeira grande restauração foi feita na aeronave, é que a história do Fokker D.VII D-28 começou a ser revelada. O primeiro vestígio de seu ado nos Países Baixos foi quando a pintura do caça foi raspada pelos curadores, e indícios de marcações laranjas, a cor da força aérea holandesa no começo dos anos 20, começaram a ser revelados.

Fokker D.VII Deutsches Museum
Enquanto ava por restauração, foram descobertas as marcas originais holandesas do Fokker D.VII, inclusive a matrícula D-28. Créditos: Deutsches Museum

Dados levantados por pesquisadores e especialistas na aeronave nas décadas seguintes, especialmente levando em consideração dados do Exército e Força Aérea holandesa, deram ainda mais credibilidade a teoria da procedência holandesa, que é amplamente aceita devido a outras evidências descobertas posteriormente na aeronave.

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Seria tal história que levou ao acerto por parte do NMM e do Deutsches Museum, com tal acordo confirmando, mesmo que de maneira provisória, o retorno da aeronave aos Países Baixos depois de 85 anos. Esse é o segundo Fokker D.VII a fazer parte da coleção do NMM, visto que a instituição já tem em exposição fixa um D.VII (o 2528/18) pintado nas cores da Força Aérea do Exército holandês (LVA).

Um detalhe ainda por confirmar é se o D-28 será especialmente pintado em suas cores originais do Serviço Aéreo Naval para a exposição nos Países Baixos, já que atualmente a aeronave apresenta pintura genérica alusiva aos caças alemães da Primeira Guerra.

Fokker D.VII: caçador por excelência

Fábrica Fokker, depois de sua transferência da Alemanha para a Holanda,
A fábrica Fokker, depois de sua transferência da Alemanha para a Holanda, na década de 20 – podem ser vistos na foto alguns dos D.VII destinos ao Serviço Aéreo Naval Holandês. Créditos: Instituto Holandês de História Militar

As aeronaves da firma Fokker conquistaram grande reputação durante a Primeira Guerra Mundial, com a engenheiro teuto-holandês Anthony Fokker fazendo fama com suas aeronaves extremamente, com o D.VII sendo a evolução final de uma família de aeronaves que tinha suas origens no primeiro modelo de bem-sucedido de Fokker, o Eindecker, de 1915.

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O caça despertou o temor dos pilotos de caça adversários quando apareceu sobre os céus do front ocidental nos meses finais da Primeira Guerra, por sua manobrabilidade, poder de fogo e letalidade em combate. No entanto, o principal destaque do caça era sua velocidade, superior aos 200 km/h em suas últimas versões – algo um tanto surpreendente para uma aeronave do conflito.

No entanto, a derrota de seu principal parceiro comercial na guerra, o governo alemão, fez com que a Fokker-Flugzeugwerke se encontrasse em maus lençóis ao fim do conflito, impossibilitada de construir os produtos que impulsionaram a companhia para o sucesso. Para isso, a empresa procurou novos mercados, negociando com nações que eram inimigas nos tempos de guerra e outras que decidiram permanecer neutras durante o conflito.

Um dos maiores mercados da Fokker no período pós-guerra acabou sendo curiosamente a terra natal do projetista, a Holanda. O engenheiro acabou reestruturando toda a sua companhia nos arredores de Amsterdam, para atender a um grande pedido do governo holandês para mais de 40 D.VII, que equiparam a Força Aérea do Exército, a Força Aérea Naval e o Destacamento Aéreo do Exército das Índias Holandesas.

Os D.VII holandeses teriam um histórico operacional adequado, operando como aeronave de superioridade aérea até o meio dos anos 20, com algumas aeronaves tendo seus motores BMW originais de 185cv substituídos pelos Armstrong-Siddeley Puma de 230cv. Posteriormente, os D.VII restantes foram transferidos para escolas de aviação do exército holandês, com o último Fokker D.VII nesse perfil sendo retirado de operação em 1938.

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Lorenzo Baer

Autor: Lorenzo Baer

Jornalista de carteirinha, formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Tem como grandes paixões o esporte e tudo que tenha haver como velocidade – tenha asas (ou não). Se tivesse que escolher um período da aviação para dizer que é seu hobby, e de maneira pretenciosa, especialidade, seria o dos velhos e carismáticos biplanos da Primeira Guerra Mundial.

Categorias: Aviação Geral, Notícias, Notícias, Setor Aéreo

Tags: Deutsches Museum, Fokker D.VII, Munique

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