Faltam menos de 100 dias para a volta de um dos maiores e mais tradicionais eventos aéreos do planeta, as National Championship Air Races (NACR), que retorna com força para a edição de 2025, depois de um período de grande turbulência e incerteza para a organização da prova.
O evento, que é composto por uma série de corridas aéreas categorizadas, foi criado em 1964 pelo veterano piloto da Segunda Guerra Mundial William M. ‘Bill’ Stead, em uma época em que ações semelhantes estavam se revelando extremamente populares nos Estados Unidos.
Entre 1964 e 1965, os eventos ocorreram no isolado aeródromo de Sky Ranch, no deserto de Nevada (EUA), o qual era composto apenas uma simples pista de terra com 610 metros de comprimento. Apesar disso, o sucesso retumbante dos dois primeiros anos do encontro demonstrou a urgente necessidade de um lugar mais adequado para a disputa das provas, com o evento sendo transferido em 1966 para a Base Aérea de Stead.
A nova sede do NACR permitiu que objetivos mais ambiciosos de visibilidade e divulgação do evento fossem traçados, inclusive com a formação de uma entidade exclusiva para a gestão do evento, a Reno Air Racing Association (RARA), que ajudou consideravelmente no crescimento da popularidade da corrida nas décadas seguintes.
Devido à proximidade do campo de pouso com a cidade de Reno, não demorou muito para que a competição se tornasse popularmente conhecida como Reno Air Races (ou simplesmente “Reno”).
Todo outono, centenas de milhares de entusiastas da aviação se juntavam no deserto de Nevada para acompanhar a agenda de corridas do evento, que contava com provas em circuitos de formato oval fechados, que variavam entre 4,8 km (Biplanos e Fórmula 1) a 13 km (Jato, Unlimited) por volta.

No entanto, o evento vinha sofrendo forte oposição desde os anos 2000, devido a questões relacionadas à segurança. Nos quarenta anos desde o primeiro evento na Base Aérea de Stead, o pacato e isolado local havia se tornado uma zona bastante populosa, com as zonas circundantes crescendo exponencialmente durante as últimas décadas.
Alguns acidentes fatais ao longo dos últimos anos ajudaram ainda mais a fortalecer as convicções de uma catástrofe iminente, em especial, após a fatídica edição de 2011, quando um P-51 (conhecido como ‘Galloping Ghost’) colidiu com uma das arquibancadas montadas para o evento, matando o piloto e 10 espectadores, além de ferir gravemente outros 70.
Esse e outros fatores (incluindo a pressão de órgãos relacionados à aviação civil estadunidense, como FAA e a NTSB) forçaram o RARA a anunciar em 2023 mudanças sérias na competição, inclusive sondagens para a escolha de um novo local para as corridas.
De acordo com o NCAR, estudos independentes de impacto econômico mostraram que o evento gerava até US$150 milhões anuais para a economia local em Reno. Assim, a ideia de simplesmente deixar as corridas desaparecerem não era uma opção para os organizadores, e muitas comunidades aeroportuárias espalhadas pelos EUA começaram a fazer lobby para que o evento fosse transferido para seus domínios.
Das 38 cidades que enviaram propostas ao RARA e ao NCAR em 2023, 11 foram selecionadas para ar por estudos de viabilidade pelas instituições, com apenas três, Casper (Wyoming), Pueblo (Colorado), e Roswell (Novo México) progredindo para a fase final de triagem. Em maio de 2024, o veredicto foi finalmente anunciado: Roswell se tornaria a nova casa da NCAR a partir de 2025.
A edição de 2025
Apesar da fama relacionada aos discos voadores e outros objetos voadores não identificados, desta vez serão aeronaves mais convencionais que sobrevoarão Roswell. O evento acontecerá entre os dias 10-14 de setembro no Centro Aéreo de Roswell (KROW), localizado 8 km ao sul da cidade.
Criada em um terreno de 2.225 hectares que cobria a antiga Base Aérea de Walker, o Centro Aéreo de Roswell se converteu, desde os anos 60, em um aeroporto para operações civis e recreativas, além de oferecer armazenamento externo de longo prazo para centenas de aeronaves. O aeroporto em si possui duas pistas: a 3/21, medindo 3.900 x 45 metros, e a 17/35, medindo 3.008 x 30 metros.

O evento contará com sete classes em disputa:
- Classe Unlimited: é a principal classe do evento, composta majoritariamente por caças originais ou modificados da Segunda Guerra Mundial, sendo os P-51 Mustangs, F-8F Bearcats e Hawker Sea Furies os mais utilizados. A classe Unlimited voa a velocidades superiores a 800 km/h;
- Classe Jet: marcada por competições de match racing com jatos Aero L-39 “Albatros”, de fabricação tcheca. Hoje, a classe expandiu suas atividades adicionando outras aeronaves, como Provost, Iskra, Aero L-29 e D.H. Vampires. Esta classe representa verdadeiramente o “esporte aéreo mais rápido do planeta”, com velocidades superiores a 800 km/h;
- Classe Fórmula 1: tendo como requisito básico o uso do motor Continental O-200, as aeronaves dessa classe geralmente ultraam os 400 km/h. Muitas aeronaves do grupo são artesanalmente construídas pelos pilotos, com maior liberdade no design;
- Classe Biplano: representada por pequenas aeronaves acrobáticas como o Pitts Special, Mong e Smith Miniplane, oferecendo aos pilotos a oportunidade de aplicar suas habilidades em corridas com velocidades superiores a 320 km/h;
- Classe Esportiva: destaca o trabalho inovador realizado no desenvolvimento de aeronaves de alto desempenho construídas em kit. As aeronaves da Classe Esportiva correm em um percurso de 10,2 km a velocidades que chegam a quase 560 km/h;
- Classe T-6: oferece corridas entre aeronaves de série, incluindo o T-6 “Texan” original, além das variantes “Harvard”, de fabricação canadense, e “SNJ”, da Marinha dos EUA. Como as aeronaves são todas do mesmo tipo, a Classe T-6 proporciona algumas das corridas mais emocionantes, com ênfase na estratégia e na habilidade do piloto em vez da potência bruta;
- Classe STOL/DRAG: diferente das demais classes, a STOL/DRAG se trata de precisão, com os pilotos de arrancada STOL voando em uma pista designada, a cerca de 600 metros em cada direção, pousando na linha de giz ou depois de um tempo designado.
De acordo com os organizadores da corrida, a expectativa é que mais de 100 aeronaves e pilotos se inscrevam para a disputa das provas, com as mais tradicionais classes Unlimited e T-6 despertando o maior interesse até o momento.

Além disso, haverá diversas exibições de aeronaves históricas (estáticas e aéreas), demonstrações militares e atividades educacionais promovidas pelo NCAR.
Segundo Fred Telling, CEO do NCAR, “mudar-se para Roswell nos deu a oportunidade de ver como podemos expandir a experiência do NCAR tanto para os participantes quanto para os pilotos”.
“Continuaremos com as mesmas competições de voo em todas as sete classes, mas com novos fornecedores, exposições e um cenário deslumbrante do Novo México. Acreditamos que tanto os fãs de longa data quanto os novos participantes verão como é emocionante realizar as corridas em um local tão icônico como Roswell”, ele completa.