Em uma interessante reviravolta, os Estados Unidos rejeitaram ainda ontem (08) a oferta da Polônia de disponibilizar seus caças MiG-29 para posterior envio à Ucrânia. A transferência das aeronaves de Estados membros da OTAN levanta preocupações para a Aliança por possíveis retaliações da Rússia, que desde o dia 24/02 trava uma guerra com o país vizinho.
Na tarde de ontem, o Ministério das Relações Exteriores da Polônia informou que o país estaria disponibilizando toda sua frota de caças MiG-29 Fulcrum (28 aeronaves) na base aérea estadunidense de Ramstein, na Alemanha.
Posteriormente, as aeronaves seriam transferidas à Força Aérea Ucraniana. Em contrapartida, os EUA deveriam vender caças F-16 à Polônia, que já opera o modelo desde 2006. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky havia solicitado o envio dos caças na semana ada, durante uma videoconferência com líderes de Estado.

Mesmo após uma série de negociações com a Polônia, os Estados Unidos ainda tem problemas com o envio dos aviões de combate aos ucranianos. Segundo o Pentágono, a perspectiva de voar caças do território da OTAN para a zona de guerra “levanta sérias preocupações para toda a aliança”.
Conforme a Reuters, a OTAN disse que não quer um conflito direto com a Rússia, uma potência com armas nucleares e o presidente Joe Biden descartou o envio de tropas dos EUA à Ucrânia para lutar. “Simplesmente não está claro para nós que haja uma justificativa substantiva para isso”, disse o porta-voz do Pentágono, John Kirby, sobre a proposta da Polônia.
We will continue consulting with our Allies and partners about our ongoing security assistance to Ukraine, because, in fact, Poland’s proposal shows just some of the complexities this issue presents. (2/4)
— Maj. Gen. Patrick Ryder (@PentagonPresSec) March 8, 2022
It is simply not clear to us that there is a substantive rationale for it. We will continue to consult with Poland and our other NATO allies about this issue and the difficult logistical challenges it presents, but we do not believe Poland’s proposal is a tenable one. (4/4)
— Maj. Gen. Patrick Ryder (@PentagonPresSec) March 8, 2022
“Continuaremos a consultar a Polônia e nossos outros aliados da OTAN sobre essa questão e os difíceis desafios logísticos que ela apresenta, mas não acreditamos que a proposta da Polônia seja sustentável”, disse Kirby sobre os caças.
Por outro lado, o primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki afirmou em coletiva nesta quarta-feira (09) que “Uma decisão tão séria como o fornecimento de aviões deve ser unânime e inequivocamente tomada por toda a aliança do Atlântico Norte.”
“Nós não concordamos em fornecer aviões por nós mesmos, porque deve ser a decisão de toda a OTAN”, acrescentou Mateusz após as declarações dos EUA.
O vice-chanceler polonês, Pawel Jablonski, disse à estação de rádio pública Polskie Radio 1 que a Polônia deve priorizar sua segurança ao considerar o fornecimento de jatos para a Ucrânia.

“Não pode ser que a Polônia tenha – como o único país da OTAN – que correr o risco, e os outros países não teriam que compensar ou compartilhar conosco de forma alguma”, disse ele.
Victoria Nuland, Diplomata número 3 dos EUA e subsecretária de Estado para Assuntos Políticos do Departamento de Estado, disse: “Que eu saiba, não foi pré-consultado conosco que eles planejavam nos dar esses aviões. Então, acho que foi uma jogada surpresa dos poloneses.”
O ime levanta questões sobre a viabilidade do apelo do presidente Zelenskiy para que os países europeus forneçam aviões fabricados na Rússia e já operados pela Ucrânia. Legisladores dos EUA estão ansiosos para acelerar a ajuda militar à Ucrânia e estão pressionando o governo Biden para facilitar a transferência de aeronaves.

Mas o anúncio da Polônia também pode refletir suas próprias sensibilidades. Varsóvia está apoiando a Ucrânia com armas defensivas, mas disse que não enviaria jatos, pois não é parte direta do conflito entre a Ucrânia – que não é aliada da OTAN – e a Rússia.
O Ministério da Defesa da Rússia alertou esta semana que os países que oferecessem aeroportos à Ucrânia para ataques à Rússia podem ser considerados como tendo entrado no conflito.
Nuland disse que a questão principal é avaliar quais seriam as necessidades imediatas da Polônia, já que é adjacente ao conflito.
Separadamente, os militares dos EUA anunciaram que reposicionariam duas baterias de mísseis Patriot na Polônia para “combater proativamente qualquer ameaça potencial aos EUA e às forças aliadas e ao território da OTAN”.