Considerado o ‘aeroporto mais inútil do mundo’, o primeiro protótipo do Embraer 190 mudou os rumos do aeroporto da Ilha de Santa Helena, viabilizando as operações regulares no isolado terminal.
Localizada no Oceano Atlântico Sul, a Ilha de Santa Helena ficou famosa por ser o último paradeiro do imperador francês Napoleão Bonaparte, onde permaneceu exilado até o fim da sua vida em 1821, esta e outras histórias mostram a grande importância da ilha, que, aliás, conta também com o animal terrestre vivo mais antigo, trata-se de uma tartaruga-gigante-das-seicheles batizada de Jonathan, que já alcançou os 183 anos.
Com 5 mil habitantes, a Ilha de Santa Helena possui a peculiaridade de ser um dos territórios ultramarinos britânicos mais isolados e dependentes do Reino Unido, mas que possui a importância de ser um local estratégico para os britânicos. Para se ter uma ideia, Angola é o país mais próximo da ilha, separados por “apenas” 1.200 km, já a Ilha de Ascensão, é a ilha a mais próxima, com 1.125 quilômetros de distância.
Com o ar dos anos e o avanço tecnológico, o uso de aeronaves tornou-se o meio de transporte transatlântico mais rápido, mas nem isso foi o suficiente para que a Ilha de Santa Helena ficasse mais ível, pois além de a ilha não possuir praia por conta do terreno elevado, o seu relevo é predominantemente composto por rochas vulcânicas.
A falta de um porto e de praias dificultam o atracamento de navios na ilha Foto: Andrew Neaum, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons
Para piorar a situação, o único meio para se chegar até a ilha era através do navio Royal Mail St Helena, o que tornava o o na ilha bastante demorado até a Cidade do Cabo, com uma duração média de 5 dias de viagem em alto mar, mas com o ar dos anos, manter o Royal Mail St Helena se tornava mais caro e inviável, obrigando o governo britânico a realizar um amplo estudo para a construção de um aeroporto na ilha.
O elevado custo para manter o Royal Mail St Helena foi uma dos motivos para a criação de um aeroporto na ilha Foto: David Stanley via Flickr (CC BY 4.0)
Em setembro de 2008, o Governador do Conselho de Santa Helena concedeu permissão para o início das obras do Aeroporto e infraestrutura relacionada. O contrato com a Design, Build and Operate St Helena Airport foi concedido a uma construtora sul-africana em 2011 e assinado em 3 de novembro de 2011, dando uma esperança para o fim das longas viagens marítimas.
Após longos estudos e parcerias com empresas privadas para a construção do novo aeroporto, o projeto estava pronto, mas um detalhe despercebido quase jogou por terra todo o investimento do novo terminal, já que durante as obras não foram abordadas as tesouras de vento (windshear) que eram constantes na ilha, principalmente durante a aproximação da pista 20 (atual 19), colocando em dúvidas não só a inauguração, mas o pleno funcionamento do aeroporto, que ironicamente acabou sendo apelidado como “o aeroporto mais inútil do mundo” pela mídia britânica.
Voos de teste: o divisor de águas para o futuro do aeroporto
Boeing 737-800 da Comair Foto: Aeroporto de St Helena Airport/Divulgação
Apesar de o Aeroporto de Santa Helena ter sido inaugurado em junho de 2016, os primeiros testes de voos em curso envolvendo um jato de médio porte iniciou-se no mesmo mês com um Boeing 737-800 de matrícula ZS-ZWG da companhia aérea sul-africana Comair.
Ainda que o uso do aeroporto por aeronave de pequeno porte tenha sido um sucesso, o mesmo não ocorreu com aeronaves a jato maiores, sendo o caso do boeing 737-800 da Comair.
Durante a realização dos testes, percebeu-se que os ventos eram muito fortes durante a aproximação, colocando os limites operacionais das aeronaves maiores acima do habitual.
Para tentar contornar a situação, optou-se por realizar os pousos pela pista 02 (atual 01), apesar de não ter o problema de windshear, o pouso pelo lado sul coincidia justamente com a direção do vento, e assim, as aeronaves pousariam somente com vento de cauda, sendo que o recomendável é o vento de proa (contra o vento) para um pouso seguro.
Com isso, constatou-se ser inviável o uso do 737 na ilha que possui uma pista com 1.950 metros de comprimento, fazendo a Comair desistir de operar na ilha, já que os ventos fortes dificultaram a operação do Boeing 737-800 na ilha, colocando em cheque o seu futuro
Já que um Boeing 737 estava operando a beira do seu limite operacional, tendo o vento e pista como pontos desfavoráveis, a quem recorrer? A Embraer entra em cena.
O primeiro protótipo do Embraer 190 visita a ilha Santa Helena
Sabendo da necessidade da operação de um jato adequado no aeroporto de Santa Helena, a Embraer enviou para ilha em janeiro de 2017 o seu primeiro protótipo do E-jet 190 de matrícula PP-XMA para realizar coletas de dados sob condições adversas.
Conforme os testes de pousos e decolagens avançavam na ilha com o jato brasileiro, a Embraer conseguiu provar ser viável uma companhia aérea operar regularmente na ilha, mudando os rumos do aeroporto que antes era visto como um elefante branco e agora, estaria com o sinal verde para realizar operações comerciais regulares.
O protótipo do E-jet 190 foi fundamental para viabilizar o funcionamento do aeroporto da Ilha de Santa Helena Foto: Icaro Roberto/Aeroflap
Na ocasião, a Embraer lançou um vídeo com detalhes da missão especial que mudou para sempre o rumo de uma das ilhas mais isoladas do mundo, veja no vídeo abaixo:
O Embraer trouxe uma nova realidade para a Ilha
E190 da Airlink durante operação inaugural no Aeroporto de Santa Helena
Como o Embraer 190 não só tinha autonomia para fazer voos sem escalas, mas realizava uma parada no aeroporto de Walvis Bay (WVB), o E-JET que antes transportava 76 ageiros, ou a operar com a sua capacidade total (98 ageiros) graças aos upgrades feitos nos motores.
Além disso, o tamanho do jato não era um problema para as operações, diferentemente do Boeing 737-800, que necessitava operar com a capacidade reduzida de peso e ageiros.
Após o sinal verde para as operações com um jato, os serviços aéreos comerciais iniciaram em 14 de outubro de 2017 com um Embraer 190 da sul-africana Airlink. A companhia operou na época um voo semanal ligando Santa Helena à África do Sul, além de uma frequência mensal ligando Santa Helena à Ilha da Ascensão.
Curiosamente, antes de iniciar as suas operações, a Airlink realizou um total de 13 testes de voo no aeroporto de Santa Helena com procedimentos de toque e arremetida (TGL) para certificar que o Embraer 190 estaria pronto para operar o seu mais novo destino.
Veja como foi o voo inaugural na época:
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Além do Embraer 190, outras aeronaves a jato também já pousaram na Ilha, é o caso de um Airbus A318 e de um boeing 757, ambos da Titan Airways:
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