A Força Aérea Brasileira realiza nesta quinta-feira (01/08) um novo leilão, oferecendo cinco aeronaves através do leiloeiro João Emílio. Um dos lotes inclui um avião de caça F-5 Tiger II, oferecido por quase R$ 22 mil, envolvido em um curioso acidente há oito anos na Base Aérea de Santa Cruz (RJ). O jato “pousou sozinho” após seus pilotos ejetarem por conta de uma pane hidráulica.
De matrícula FAB 4806, o F-5FM de dois assentos é o lote 004 de um leilão que inclui outras aeronaves da Força Aérea. São elas um avião de patrulha P-3 Orion (FAB 7208), um helicóptero UH-1 Huey (FAB 8688), um C-130 Hércules (FAB 2471) e um jato executivo Learjet U-35 (FAB 2715). No pregão, também são ofertadas ferramentas e materiais aeronáuticos e sucatas de outro F-5 (FAB 4885), este nunca voado pela Aeronáutica.
Ainda sobre o 4806, este F-5 em específico se envolveu em diversos acidentes desde o início de sua carreira na Aviação de Caça Brasileira, na década de 1980, na época com o Esquadrão Pampa. No entanto, seu último e mais “bizarro” incidente ocorreu em 05 de julho de 2016, já modernizado e em serviço com o 1º Grupo de Aviação de Caça, do Rio de Janeiro.
Pousando sem pilotos
Conforme o livro Northrop F-5 no Brasil, dos pesquisadores Leandro Casella e Rudnei Cunha, o F-5 estava sendo pilotado pelos então capitães Fabio Guimarães de Mello Jr. e Gustavo Freitas de Souza, em uma missão do curso de formação de instrutores. Durante uma etapa inicial do voo, após a decolagem, os trens de pouso da aeronave não estenderam completamente, ficando travados em 45º. Após várias tentativas de subir e descer o trem de pouso, foi constatada a pane hidráulica.
Ainda com os tanques cheios e ainda carregando um tanque externo, os pilotos começaram a queimar combustível do F-5 antes de seguirem para a ejeção. Os assentos ejetáveis foram acionados “a cerca de 500 pés (152 metros) às 18h45 em uma área paralela à BASC.” O procedimento ocorreu como esperado e os dois pilotos sofreram apenas ferimentos leves.
No entanto, a grande surpresa veio mais tarde. O F-5 continuou seu último voo, mesmo sem qualquer pessoa a bordo. Após a violenta saída dos pilotos, o caça desceu até pousar numa área gramada, deslizando por cerca de 100 metros até parar.
No “pouso”, a aeronave sofreu danos no radome (cobertura do radar), profundor e asas. Mesmo assim estava em bom estado. Segundo o livro, quando os militares chegaram ao avião, ele ainda estava com os painéis acesos.
O 4806 foi “resgatado” e levado ao hangar do Grupo de Caça. De lá, foi transportado para o Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMA-SP), no Campo de Marte, organização responsável pela manutenção mais pesada nos caças F-5.
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No PAMA, foi constatado que o jato – que recebeu o apelido informal de “inquebrável” após tantos acidentes – poderia ser recuperado. Apesar das expectativas de reforma, o 4806 nunca mais voltou aos voos.
Conforme os detalhes do seu lote, o caça esta em estado de sucata, sem condições de voo e com lance inicial de R$21.960,00. Apenas pessoas jurídicas poderão arrematá-lo, e deverão obter autorização do governo dos Estados Unidos, o chamado “Processo de transferência de terceiros“. O vencedor também deverá cortar a aeronave, conforme definido pelas condições gerais do leilão.
Estima-se que a FAB possua cerca de 40 caças F-5EM/FM Tiger II em atividade em bases aéreas no Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. O modelo é usado desde 1975 e está sendo substituído pelo F-39 Gripen, devendo ser completamente aposentado até 2030.
