Judicialização no Setor Aéreo: O Equilíbrio Entre Direitos e Sustentabilidade da Aviação

Judicialização no Setor Aéreo

Por  Ivan C. Dilly e Roberto Correia da Silva Gomes Caldas

PUBLICIDADE

A colisão com um pássaro (bird strike) que levou ao cancelamento do voo LA3367 da LATAM reacendeu um debate essencial sobre a judicialização no setor aéreo brasileiro. O desabafo do presidente da LATAM, Jerome Cadier, nas redes sociais, reflete uma preocupação crescente das companhias aéreas: o impacto financeiro e operacional da multiplicação de ações judiciais, muitas vezes movidas por ageiros em busca de indenizações por situações que fogem ao controle das empresas. 

A realidade atual mostra que processar companhias aéreas no Brasil se tornou uma prática quase automática, estimulada por anúncios pagos e incentivos jurídicos que promovem ações coletivas e individuais. Esse fenômeno não apenas sobrecarrega o sistema judiciário, mas também gera custos expressivos para as empresas, reados aos próprios consumidores no preço das agens. Segundo dados publicados na mídia, o setor aéreo brasileiro gasta anualmente cerca de R$ 1 bilhão com processos judiciais.

Mas como solucionar esse problema sem comprometer os direitos dos ageiros?

Uma Nova Abordagem para a Regulação da Aviação

É necessário um novo modelo regulatório para equilibrar segurança jurídica, inovação e eficiência na resolução de conflitos. Aplicado ao setor aéreo, esse modelo pode oferecer caminhos para reduzir a judicialização excessiva e tornar as regras mais dinâmicas e adaptáveis à realidade operacional das companhias aéreas.

Os pilares dessa abordagem incluem:

Governança híbrida (público-privada): integração entre Estado e setor privado na definição de regras e diretrizes.

PUBLICIDADE

Regulação dinâmica (hard law + soft law): combinação de normas rígidas com princípios flexíveis que possam ser ajustados rapidamente.

Uso de tecnologia na regulação: implementação de plataformas digitais para agilizar decisões e reduzir burocracia.

Harmonização entre regulamentações locais e padrões internacionais: para evitar conflitos regulatórios e dar previsibilidade ao setor.

Como essa Nova Estrutura pode reduzir a Judicialização no Setor Aéreo?

PUBLICIDADE
  1. Criação de “Sandboxes Regulatórios”
  • Ambientes controlados para testar soluções inovadoras na gestão de conflitos entre ageiros e companhias.
  • Testes com sistemas alternativos de compensação, evitando a via judicial.
  1. Sistema de Camadas Regulatórias
  • Camada Base: princípios fundamentais de defesa do consumidor e segurança jurídica.
  • Camada Intermediária: normas técnicas específicas para cada situação (como bird strikes).
  • Camada Ágil: protocolos adaptáveis para diferentes cenários operacionais.
  1. Comitês Técnico-Jurídicos Permanentes
  • Composição multidisciplinar (advogados, reguladores, engenheiros aeronáuticos).
  • Análise contínua das normas e proposição de soluções para reduzir conflitos.
  1. Plataforma Digital de Governança Regulatória
  •  Centralização de dados sobre incidentes aéreos e políticas de compensação.
  •  Automação de decisões sobre direitos dos ageiros, reduzindo litígios desnecessários.
  1. Mecanismos Alternativos de Resolução de Conflitos (ADR)
  •  Mediação tecnológica para solucionar reclamações antes que se tornem processos.
  •  Câmaras especializadas em disputas do setor aéreo.

O Futuro da Regulação Aérea: Mais eficiência e menos conflitos

A implementação de um modelo regulatório mais dinâmico e eficiente no setor aéreo pode representar um avanço significativo na forma como incidentes são tratados e como ageiros são compensados. Em vez de fomentar a litigiosidade, essa abordagem permite que soluções ágeis, justas e eficientes sejam aplicadas sem sobrecarregar o Judiciário nem gerar custos excessivos para as companhias e consumidores.

A aviação brasileira precisa de um modelo que concilie os direitos dos ageiros com a sustentabilidade do setor. O desafio agora é transformar essa visão em realidade, adotando soluções inovadoras para uma regulação mais eficiente e equilibrada.

Ivan C. Dilly

PUBLICIDADE

Advogado. LL.M., Mestre em Direito pela University of California, Berkeley School of Law/USA. MBA pela FIA Business School – Fundação Instituto de istração/SP. Especialista em Direito das Relações de Consumo pela PUC/SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Especialista em Direito Empresarial pela Universidade Mackenzie/SP. Pós-graduado pela Harvard Law School/USA. Pós-graduado pela Stanford University/USA. Pós-graduado pela Hague Academy of International Law/Holanda.

Roberto Correia da Silva Gomes Caldas

Mestre e Doutor em Direito do Estado pela PUC/SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor da Faculdade Paulista de Direito, da PUC/SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Diretor do IASP – Instituto dos Advogados de São Paulo (período: 2013-2015; 2019-2021). Professor convidado dos Cursos de Mestrado e Doutorado e Pós-doutorando do PPGD da UNICURITIBA. Professor permanente dos Cursos de Maestría en Derecho de las RRII y de la Integración en América Latina de la UDE – Universidad de la Empresa – Montevidéu/Uruguai. Advogado no Brasil e em Portugal.

PUBLICIDADE

Ivan Dilly

Autor: Ivan Dilly

Advogado. LL.M., Mestre em Direito pela University of California, Berkeley School of Law/USA. MBA pela FIA Business School – Fundação Instituto de istração/SP. Especialista em Direito das Relações de Consumo pela PUC/SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Especialista em Direito Empresarial pela Universidade Mackenzie/SP. Pós-graduado pela Harvard Law School/USA. Pós-graduado pela Stanford University/USA. Pós-graduado pela Hague Academy of International Law/Holanda.

Categorias: Aeroportos, Companhias Aéreas, Ivan Dilly, Notícias, Reportagem exclusiva, Setor Aéreo

Tags: Ivan C. Dilly, Jerome Cadier, judicialização no setor aéreo, LATAM, Roberto Correia da Silva Gomes Caldas

x