Kilo Charlie: conheça os aviões de reabastecimento em voo da FAB

KC-130, KC-137 e KC-390. Conheça os aviões de reabastecimento emm voo utilizados pela Força Aérea Brasileira. Fotos: FAB, Embraer.

Internacionalmente, a letra K identifica aviões-tanque (tanKer), cuja principal missão é a transferência de combustível para outras aeronaves. O primeiro reabastecimento em voo (REVO na sigla em português) ocorreu há mais de 100 anos, nos Estados Unidos, mas foi só depois da Segunda Guerra Mundial que a prática se tornou comum no meio militar.

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O REVO é crucial para prolongar a autonomia das aeronaves, permitindo missões de longa duração, mesmo em cenários de combate onde o e logístico é limitado. A técnica reduz a necessidade de escalas e aumenta a flexibilidade das operações aéreas.

Além disso, é fundamental para a eficácia de forças armadas e para a realização de missões humanitárias ou de emergência, onde cada minuto conta.

Caças F-5 voam com o avião-tanque KC-137 da Força Aérea Brasileira. Foto: Felipe Barra/MD.
Caças F-5 voam com o avião-tanque KC-137 da Força Aérea Brasileira. Foto: Felipe Barra/MD.

No Brasil, o REVO ou a ser uma realidade em 1976, quando a Força Aérea Brasileira recebeu seus primeiros aviões-tanque na forma de dois KC-130 Hércules. Desde então, a FAB usou três modelos desse tipo de avião para abastecer seus caças em voo.

Vamos conhecer um pouco de cada um dos aviões-tanque brasileiros.

KC-130 Hércules: o pioneiro

Buscando expandir e modernizar sua capacidade de transporte aéreo, a FAB adquiriu em 1964 os seus primeiros Lockheed C-130 Hércules. Versátil e robusto, o modelo de origem estadunidense  foi um dos mais importantes vetores da história militar brasileira, participando de importantes missões durante sua carreira.

Em 1976, a FAB realizou seu primeiro reabastecimento em voo (REVO), entre um KC-130 Hércules e um F-5 Tiger II. Foto: FAB.
Em 1976, a FAB realizou seu primeiro reabastecimento em voo (REVO), entre um KC-130 Hércules e um F-5 Tiger II. Foto: FAB.

Dentre os marcos conquistados pelos Hércules brasileiros, está o de ter realizado o primeiro reabastecimento em voo no país. Nos anos 1970, a FAB ava por uma enorme modernização, iniciada com a compra dos Dassault Mirage III ses, a implantação do sistema de defesa aéreo brasileiro e a compra dos caças Northrop F-5 Tiger II. Os F-5 foram adquiridos com as chamadas sondas (probes), um instrumento instalado na lateral da fuselagem que permite o REVO.

Para abastecer seus novos jatos ainda no ar, a FAB comprou um par de KC-130H em 1974. Trata-se de um C-130H, adaptado para transferir combustível em voo.

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Além dos tanques originais, o KC-130 recebe mais dois tanques de combustível instalados no compartilhamento de cargas. Na ponta de cada asa, o “Hércules-Tanque” recebeu um “pod”, contendo uma mangueira com um estabilizador na ponta, chamado de cesto, onde o caça acopla a sonda para receber combustível.

Os dois reabastecedores, de matrícula FAB 2461 e 62, chegaram ao país em janeiro de 1976 e foram incorporados ao 1º Grupo de Transporte de Tropa. Em maio daquele mesmo ano, ocorreu o primeiro reabastecimento aéreo na história da FAB, entre o KC-130 de matrícula FAB 2461, e caças F-5E do 1° Grupo de Aviação de Caça. A partir deste evento, o código-rádio BARÃO se tornou símbolo das atividades de reabastecimento em voo com o KC-130. 

O Hércules foi o mais longevo dos KCs da FAB, transferindo combustível para caças F-5, A-1 e Mirage 2000 por quase 50 anos. Também foi com o veterano turboélice que o Brasil se tornou o primeiro país na América do Sul a reabastecer um helicóptero em voo, com o H-36 Caracal. Em dezembro de 2023, os C-130 deixaram o serviço operacional da FAB, sendo oficialmente aposentados em fevereiro deste ano.

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KC-137: o REVO a jato

Quase dez anos após o primeiro REVO entre um Hércules e um Tiger, a Força Aérea comprou “novos” aviões-tanque, dessa vez os primeiros movidos por aviões a jato. Em um negócio com a Varig, foram adquiridos quatro jatos de ageiros Boeing 707-320 e 340. Fabricados na década de 1960, os 707 seriam designados KC-137 na FAB.

Assim que deixaram a linha aérea, os 707 da Força Aérea Brasileira foram levados aos Estados Unidos, onde a própria Boeing os transformou em aviões-tanque.

Além de receber uma unidade de força auxiliar (APU) e uma escada retrátil, os 707 receberam reforço estrutural, mais tanques de combustível e um par de pods para REVO, instalados nas pontas das asas como no KC-130. Cada “casulo” acomodava uma mangueira com 10,6 metros de comprimento. Matriculados 2401 a 2404,, os jatos foram operados pelo Esquadrão Corsário durante toda sua vida operacional, de 1986 até 2013. 

REVO AMX KC-137 Reabastecimento em voo
AMX A-1A em REVO com um KC-137. Foto: FAB

Enquanto o Hércules era um reabastecedor tático, o KC-137 era um avião-tanque de porte estratégico. O jato era mais rápido, tinha maior autonomia e os cerca de 90 mil litros de combustível permitiam vários REVOs com os caças brasileiros. Um vetor importante, especialmente considerando as grandes dimensões do Brasil.

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Ao mesmo tempo, os Boeing também foram amplamente utilizados no transporte de tropas, cargas, e em missões humanitárias. No caso específico do 2401, o ex-Varig se tornou o jato presidencial brasileiro, enquanto dividia as tarefas militares. 

Popularmente, os KC-137 eram chamados de Sucatão, por conta da idade, ruído e fumaça gerados pela aeronave. O apelido também era uma referência ao VC-96, um 737-200 também usado para transporte de autoridades nacionais: além do apelido Breguinha, o 737-200 da FAB também era chamado de Sucatinha.

Ao completar 25 anos de serviço com a FAB em 2011, os KC-137 já mostravam alguns sinais da idade, afinal, eram aeronaves fabricadas na década de 1960. A manutenção era cara e trabalhosa, uma vez que o fim da produção do 707 em 1992 dificultou em muito o fornecimento de peças.

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Na época, o Comando da Aeronáutica já buscava um sucessor na forma de três Boeing 767, também transformados em avião-tanque, mas que nunca vieram, por falta de recursos. 

Em maio de 2013, um acidente no Haiti envolvendo o FAB 2404 decretou o fim do 707 militar no Brasil e em outubro do mesmo ano, a FAB aposentou o Sucatão. Infelizmente, nenhuma aeronave foi preservada, todos foram transformados em sucata. 

KC-390 Millennium: gigante nacional

Em 2009, a Embraer e a Aeronáutica se juntaram para desenvolver um novo avião de transporte tático e reabastecimento em voo. A missão era dotar a FAB – e inserir no mercado – uma aeronave moderna, mais capaz que o C-130 norte-americano. Surgia, assim, o KC-390, hoje um dos maiores sucessos do braço militar da Embraer. 

KC-390 reabastecendo um par de caças-bombardeiros A-1 AMX. Foto: Claudio Capucho - Embraer.
KC-390 reabastecendo um par de caças-bombardeiros A-1 AMX. Foto: Claudio Capucho – Embraer.

O modelo entrou em atividade com a FAB em 2019, que recebeu em setembro de 2024 o sétimo de 19 cargueiros encomendados. Também em serviço com as forças aéreas de Portugal e Hungria, o KC-390 já atuou em missões de transporte de tropas, lançamento de cargas, combate a incêndios e evacuação aeromédica.

Mas foi em agosto de 2022 que o Millennium realizou o seu primeiro reabastecimento em voo com a FAB. Na ocasião, 46 anos após o primeiro REVO da FAB, o KC-390 2857 transferiu combustível para caças F-5M do 1º GAvCa, em uma atividade de treinamento no Rio de Janeiro, com instrutores da Embraer e militares dos esquadrões Zeus e Gordo. 

Desde então, o KC-390 abasteceu os F-5 e AMX A-1 diversas vezes. O próximo o é transferir combustível para os novos Saab F-39 Gripen, aos helicópteros H-36 e para o turboélice SC-105 Persuader, de busca e salvamento. 

O sistema de REVO do KC-390 é composto por três itens principais. Um par de tanques, instalados no compartimento de carga, elevam de 27 para 31 toneladas a quantidade combustível do jato; nas pontas das asas, pods Cobham 912 transferem o precioso querosene de aviação para os receptores, através de mangueiras com cerca de 30 metros de comprimento. 

O terceiro item está instalado no topo da fuselagem do KC-390: uma sonda de REVO. O equipamento permite que o Millennium seja abastecido em voo, tornando-se o primeiro cargueiro/avião-tanque da FAB com essa capacidade. 

Bônus: A-4 Skyhawk da Marinha

Até agora, tratamos de três aviões de grande porte. Neste pequeno bônus, o avião-tanque é menor que o F-5 da FAB. Trata-se do A-4 Skyhawk da Marinha do Brasil (MB).

Os A-4, chamados de AF-1 Falcão pela MB, foram comprados na década de 1990 par atuar a bordo de porta-aviões. Como o espaço neste navio é limitado, os A-4 podem atuar como aviões-tanque, através do chamado Buddy Store. O equipamento é similar ao encontrado nos demais reabastecedores, composto por um casulo com uma mangueira e uma bomba que pressuriza o combustível, transferido de tanques subalares.

Em 2016, um A-4 (AF-1) da Marinha reabasteceu em voo um F-5 da FAB. Dessa forma, o Skyhawk é o menor avião-tanque do Brasil. Foto: Major Romanelli/FAB.
Em 2016, um A-4 (AF-1) da Marinha reabasteceu em voo um F-5 da FAB. Dessa forma, o Skyhawk é o menor avião-tanque do Brasil. Foto: Major Romanelli/FAB.

Logicamente, a capacidade combustível é bem menor, com o A-4 podendo transferir cerca de 907 quilos de querosene, ou um pouco mais caso seja necessário o uso do combustível interno do jato naval.

Em outubro de 2016, uma atividade conjunta inédita, entre o 1º Grupo de Defesa Aérea da FAB e o 1º Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque da Marinha, viu o primeiro REVO entre caças no Brasil, com o A-4 transferindo combustível para os caças F-5, então operados pela unidade da Aeronáutica, hoje equipada com os modernos F-39. 

Gabriel Centeno

Autor: Gabriel Centeno

Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.

Categorias: Artigos, Militar, Notícias, Notícias

Tags: avião-tanque, fab, KC-130, KC-137, KC-390, reabastecimento em voo, Revo

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