Operação LOP em motores a pistão: você está fazendo certo?

Operação LOP em motores a pistão

<p>Segundo o Registro Aeronáutico Brasileiro&comma; em 2019 o número de aviões com motores a pistão correspondia a 60&percnt; do total&comma; em situação regular&period; Embora não seja relevante em número de horas de voo&comma; é uma aviação significativa&semi; mas&comma; pouco atendida em estudos e teses científicas&comma; no Brasil&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Contudo&comma; o assunto &OpenCurlyDoubleQuote;operação LOP” é bombardeado por mitos e lendas&comma; e necessita de maior divulgação por causa de seus benefícios&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Inclusive&comma; uma das razões de pilotos recusarem a operação&comma; é porque creem ser um procedimento novo e&comma; portanto&comma; sem confiabilidade&period;<&sol;p>&NewLine;<p>É um equívoco&comma; já que há indícios &lpar;inclusive manuais&rpar;&comma; indicando esta operação na aviação comercial &lpar;época dos motores radiais&rpar;&comma; principalmente entre as 1955 e 1965 &&num;8211&semi; embora os instrumentos usados para atingir os resultados&comma; fossem distintos&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Enfim&comma; o objetivo desta matéria é divulgar mais sobre a operação&comma; porque sabemos o quão positivo é para a sustentabilidade financeira e ambiental&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Bom&comma; primeiramente é importante relembrar dois conceitos&colon; <strong>combustão<&sol;strong>&comma; que é uma reação química entre uma substância &lpar;o combustível&rpar; e um gás &lpar;o comburente&rpar;&semi; e <strong>mistura ar combustível<&sol;strong>&comma; que é itida por um cilindro para combustão&period; Conforme Jorge M&period; Homa &lpar;2007&rpar;&comma; o comburente é formado principalmente por oxigênio&semi; o combustível é a gasolina de aviação&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Dos conceitos acima&comma; é importante também relembrar que uma mistura pode ser&colon; rica &lpar;Rich Of Peak &&num;8211&semi; ROP&rpar; ou pobre &lpar;Lean of Peak &&num;8211&semi; LOP&rpar;&comma; conforme a imagem a seguir&comma; extraída da página 25 do manual da Pratt &amp&semi; Whitney &lpar;1955&rpar;&period;<&sol;p>&NewLine;<h2><span style&equals;"font-size&colon; 14pt&semi;"><strong>Imagem 1 – Razões de misturas<&sol;strong><&sol;span><&sol;h2>&NewLine;<p style&equals;"text-align&colon; center&semi;"><img class&equals;"alignnone wp-image-167812 size-full" src&equals;"https&colon;&sol;&sol;www&period;aeroflap&period;com&period;br&sol;wp-content&sol;s&sol;2024&sol;04&sol;LOP1&period;png" alt&equals;"Operação LOP em motores a pistão" width&equals;"596" height&equals;"269" &sol;><&sol;p>&NewLine;<p>No lado direito do gráfico acima são misturas ricas&comma; e o oposto&comma; pobre&period; Note que na razão 12&comma;5&colon;1 de ar combustível &lpar;na primeira régua inferior&comma; fora do quadro avermelhado&rpar;&comma; a potência é máxima&period; Na razão 16&colon;1&comma; há melhor economia de combustível&comma; embora menor potência&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Na razão 8&colon;1&comma; o motor estará afogado e sem potência&comma; assim como na razão 25&colon;1 o motor estará cortado&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Para alcançar o objetivo desse artigo&comma; é importante também entender sobre a química da gasolina durante e após a combustão no motor&comma; as possíveis falhas e riscos que podem acarretar&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Durante a compressão&comma; o combustível é convertido em monóxido de chumbo&comma; que aumentará a octanagem&comma; porém facilitará a formação de depósitos de carvão nas velas e válvulas&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Segundo Edward Kollin&comma; foi descoberto que&comma; ao adicionar dibromoetano&comma; a formação de depósitos de carvão diminuía&comma; pois a mistura aria a se transformar em brometo de chumbo&comma; quando entrava em combustão&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Porém&comma; mais problemas foram notados&colon; quando a mistura era excessivamente rica&comma; o brometo de chumbo se precipitava formando ácido bromídrico&comma; que dissolvia o alumínio&period; Além disso&comma; se o pico de temperatura na combustão não era suficientemente alto&comma; os depósitos de carvão se formavam da mesma forma como com o monóxido de chumbo&period;<&sol;p>&NewLine;<p>O fato é que&comma; durante a combustão a gasolina se transforma primeiro em oxibrometo de chumbo&comma; que é a mistura de <strong>monóxido de chumbo <&sol;strong>com <strong>brometoe chumbo<&sol;strong>&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Para o produto final ser alcançado&comma; sem a presença de monóxido de chumbo&comma; cientistas concluíram que era preciso mais calor &lpar;temperatura maior&rpar;&comma; para a reação química ser completa e transformar toda mistura em <strong>brometo de chumbo&period; <&sol;strong><&sol;p>&NewLine;<p>Além da justificativa do último parágrafo&comma; após a combustão&comma; mesmo em temperatura abaixo da ideal &lpar;pico de temperatura&rpar;&comma; a mistura perde calor pelo processo de expansão dos gases e&comma; na agem pela válvula de escapamento&comma; porque a pressão estática diminui&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Quando a diminuição de temperatura atinge o ponto de condensação dos elementos químicos na gasolina&comma; estes se precipitam e formam depósitos nas superfícies mais próximas a seu fluxo&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Portanto&comma; se o pico de temperatura na combustão for baixo&comma; a mistura não completará o ciclo até o produto final&period; Quando ocorre o decréscimo de temperatura&comma; a formação de depósitos de carvão será iminente&period;<&sol;p>&NewLine;<p>A imagem 2&comma; ilustra uma válvula de escapamento de um motor Continental&period; Há depósitos de carvão na haste da válvula&comma; próxima à base&period; Note que esta região está próxima do encaixa da válvula à guia&comma; aumentando o risco de travamento da válvula&period;<&sol;p>&NewLine;<h3><span style&equals;"font-size&colon; 14pt&semi;"><strong>Imagem 2 – Válvula de escapamento&period;<&sol;strong><&sol;span><&sol;h3>&NewLine;<p style&equals;"text-align&colon; center&semi;"><img class&equals;"alignnone wp-image-167813 size-full" src&equals;"https&colon;&sol;&sol;www&period;aeroflap&period;com&period;br&sol;wp-content&sol;s&sol;2024&sol;04&sol;lop2&period;png" alt&equals;"Operação LOP em motores a pistão" width&equals;"372" height&equals;"213" &sol;><&sol;p>&NewLine;<p>Contudo&comma; até esse ponto do artigo fica claro que a temperatura é a mais importante ferramenta de gerenciamento da vida útil do motor&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Motor operando frio é ruim&semi; motor operando quente também é ruim&comma; como será abordado a seguir&period;<&sol;p>&NewLine;<h4><span style&equals;"font-size&colon; 14pt&semi;"><strong>Imagem 3 – Resistência alumínio&period;<&sol;strong><&sol;span><&sol;h4>&NewLine;<figure id&equals;"attachment&lowbar;167814" aria-describedby&equals;"caption-attachment-167814" style&equals;"width&colon; 586px" class&equals;"wp-caption aligncenter"><img class&equals;"wp-image-167814 size-full" src&equals;"https&colon;&sol;&sol;www&period;aeroflap&period;com&period;br&sol;wp-content&sol;s&sol;2024&sol;04&sol;lop3&period;png" alt&equals;"Operação LOP em motores a pistão" width&equals;"596" height&equals;"238" &sol;><figcaption id&equals;"caption-attachment-167814" class&equals;"wp-caption-text">Fonte&colon; &lpar;PRATT &amp&semi; WHITNEY&comma; 1955&rpar;<&sol;figcaption><&sol;figure>&NewLine;<p>&nbsp&semi;<&sol;p>&NewLine;<p>O gráfico acima mostra a resistência da liga de alumínio a deformações plásticas&comma; conforme temperatura&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Sabendo que cabeças de cilindros são de liga de alumínio&comma; fica ressaltado o risco de temperatura alta no motor&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Os instrumentos principais no gerenciamento de temperaturas de um motor são&colon; CHT&comma; que mede a temperatura na cabeça de cilindro e EGT que mede a dos gases de escapamento&period; A CHT deve ser mais fria que a EGT &lpar;HOLSCLAW&comma; 2019&rpar;&comma; pois a última está associada à temperatura de combustão &lpar;que não pode ser baixa&rpar;&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Os autores BUSCH&comma; Mike &lpar;autor de vários livros do assunto&comma; conforme observa a venda de alguns neste <a href&equals;"https&colon;&sol;&sol;www&period;amazon&period;com&period;br&sol;Mike-Busch-Engines-maintenance-troubleshooting&sol;dp&sol;1718608950">link<&sol;a>&semi; 2018&rpar; e DEAKIN&comma; John &lpar;1999&rpar; afirmam que&comma; valores absolutos de CHT são importantes&comma; pois indicam o estresse que o pistão e cilindro estarão sofrendo&period; Esta afirmação é provada pelo gráfico 1&period;<&sol;p>&NewLine;<h5><span style&equals;"font-size&colon; 14pt&semi;"><strong>Gráfico 1 – Temperaturas e potências<&sol;strong><&sol;span><&sol;h5>&NewLine;<figure id&equals;"attachment&lowbar;167815" aria-describedby&equals;"caption-attachment-167815" style&equals;"width&colon; 526px" class&equals;"wp-caption aligncenter"><img class&equals;"wp-image-167815 size-full" src&equals;"https&colon;&sol;&sol;www&period;aeroflap&period;com&period;br&sol;wp-content&sol;s&sol;2024&sol;04&sol;lop5&period;png" alt&equals;"Operação LOP em motores a pistão" width&equals;"536" height&equals;"535" &sol;><figcaption id&equals;"caption-attachment-167815" class&equals;"wp-caption-text">Fonte&colon; &lpar;TCM&rpar;<&sol;figcaption><&sol;figure>&NewLine;<p>&nbsp&semi;<&sol;p>&NewLine;<p>Para entender a afirmação acima&comma; é necessário analisar a curva de CHT &lpar;segunda de cima para baixo&rpar; e potência efetiva &lpar;terceira mais inferior&rpar;&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Note que o pico de CHT coincide com o pico da potência efetiva &lpar;BHP&rpar;&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Os benefícios da operação LOP am a ser claros quando o empobrecimento<&sol;p>&NewLine;<p>da mistura a pelo pico de EGT &lpar;primeira curva ao topo&rpar; até 50°F abaixo do pico &lpar;em direção à esquerda do gráfico&rpar;&period; Analisando o gráfico acima&comma; nota-se que EGT e CHT serão baixos&comma; bem como potência efetiva também&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Mesmo sem ganho de potência&comma; a eficiência é máxima &lpar;note depressão na curva combustível&sol;potência&rpar;&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Já na operação ROP&comma; o empobrecimento da mistura atinge o pico de EGT e após é enriquecido até 50°F abaixo &lpar;lado direito do gráfico&rpar;&period; A CHT será maior&comma; portanto&comma; mais estresse ao cilindro&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Nesse regime&comma; para a CHT ser igual quando em LOP&comma; a EGT precisará ser menor&period; Portanto&comma; aumenta o risco de formação de depósitos de carvão&period;<&sol;p>&NewLine;<p>E mais&colon; a eficiência será menor&comma; embora a curva potência indique um valor atrativo &lpar;maior velocidade de cruzeiro&rpar;&period;<&sol;p>&NewLine;<h6><span style&equals;"font-size&colon; 14pt&semi;"><strong>Gráfico 2 – pico de pressão interna&period;<&sol;strong><&sol;span><&sol;h6>&NewLine;<p style&equals;"text-align&colon; center&semi;"><img class&equals;"alignnone wp-image-167816 size-full" src&equals;"https&colon;&sol;&sol;www&period;aeroflap&period;com&period;br&sol;wp-content&sol;s&sol;2024&sol;04&sol;lop6&period;png" alt&equals;"Operação LOP em motores a pistão" width&equals;"692" height&equals;"468" &sol;><&sol;p>&NewLine;<p>No gráfico 2&comma; é representado o pico de pressão interna do cilindro&period; Após a faísca da vela &lpar;linha amarela&rpar; e a linha vermelha vertical &lpar;ponto morto alto do pistão&rpar;&comma; a pressão interna atinge o pico&comma; causado pela combustão da mistura&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Se a mistura for ROP &lpar;linha rosa do gráfico 2&rpar; a pressão interna é alta &lpar;como a CHT&rpar;&comma; além de acontecer cedo e rápida&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Se a mistura for LOP &lpar;linha azul&rpar; o pico de pressão interna é menor&comma; mais atrasado&comma; porém longo&comma; provando mais dois benefícios da operação LOP&colon; mesma eficiência com menor pico de pressão e&comma; maior margem de segurança contra o fenômeno detonação&period;<&sol;p>&NewLine;<p>A detonação acontece quando o pico de pressão interna é excessiva&comma; principalmente causado por CHT altíssima&period; O resultado é catastrófico&period;<&sol;p>&NewLine;<p><span style&equals;"font-size&colon; 14pt&semi;"><strong>CONSIDERAÇÕES FINAIS<&sol;strong><&sol;span><&sol;p>&NewLine;<p>Esse estudo não tem a intenção de estimular a extinção da operação ROP&comma; até porque é a ideal para necessidades por voos mais velozes ou com maior potência&comma; sem considerar que é a mais simples de se configurar e manter&comma; pois não exige monitoramento constante de temperaturas&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Mas&comma; o estudo deixa claro que a operação mais frequente em ROP pode trazer riscos ao motor&comma; que podem ser reduzidos ou mitigados com a operação LOP&comma; inclusive as revisões prematuras de cilindros&comma; e antecipação de revisão geral de motor &lpar;TBO&rpar;&period;<&sol;p>&NewLine;<p>A operação LOP também traz benefícios ao meio ambiente&comma; uma vez que haverá menor emissão de gases poluentes e chumbo na atmosfera&comma; sem afetar a quantidade de voos no mundo&period;<&sol;p>&NewLine;<p>Contudo&comma; a chave para prevenir falhas nos motores e fomentar medidas de sustentabilidade ambiental não recai somente às regras criadas por agências reguladoras de aviação ou em construir cilindros mais robustos&comma; mas em educar pilotos que voam atrás desses cilindros&period;<&sol;p>&NewLine;

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Rafael Payão

Autor: Rafael Payão

Analista do mercado de aviação executiva da Aeroflap. Consultor de vendas e compras de aerovanes da Aeroflap. É piloto (PLA) com mais de 3000 horas voo, formado bacharel em Aviação Civil pela UAM e pós graduado em engenharia de manutenção aeronáutica pela PUC-MG.

Categorias: Aeronaves, Aeronaves, Artigos, Notícias, Setor Aéreo

Tags: Ooperação ROP, Operação LOP

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