Projeções da aviação comercial, à valorização do dólar

Aviação comercial dólar

Em 2024, o dólar registrou uma valorização significativa de aproximadamente 27% em relação ao real, encerrando o ano cotado a R$ 6,18.

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Para 2025, as projeções indicam que o dólar deve permanecer acima de R$ 6, com estimativas variando entre R$ 5,85 e R$ 6,00 até o final do ano, conforme noticiado no site Valor Investe.

Fatores internos, como a política fiscal brasileira e a credibilidade do governo, juntamente com elementos externos, como as políticas econômicas dos Estados Unidos sob a istração de Donald Trump, influenciarão a cotação da moeda, conforme apontam analistas.

É importante notar que, embora o dólar tenha subido globalmente, o real apresentou uma desvalorização mais acentuada em comparação com outras moedas emergentes, refletindo preocupações específicas com a economia brasileira.

Enfim, a valorização do dólar frente ao real exerce uma influência significativa sobre a aviação, especialmente as companhias aéreas brasileiras, dado que aproximadamente 60% de seus custos operacionais são “dolarizados”. Entre esses custos, destacam-se o leasing de aeronaves, manutenção, seguros e, principalmente, o combustível de aviação (QAV), que representa cerca de 40% das despesas operacionais.

Abastecimento de QAV feito pela VIBRA a um avião da LATAM.
Foto divulgação

 

Principais Custos Atrelados ao Dólar

  • Combustível de Aviação (QAV): O preço do QAV é cotado em dólar, tornando-o suscetível às flutuações cambiais. Desde 2020, o preço do QAV subiu mais de 50%, impulsionado por crises internacionais, como a guerra na Ucrânia, que mantém o preço dos combustíveis em patamares elevados.
  • Leasing de Aeronaves: Muitas companhias brasileiras utilizam aeronaves arrendadas, cujos contratos são fechados em dólar. A desvalorização do real aumenta os custos desses contratos, pressionando ainda mais as finanças das empresas.
  • Manutenção e Peças: Serviços de manutenção e peças de reposição, muitas vezes importados, também são cotados em dólar, elevando os custos operacionais em períodos de alta da moeda americana.

Importante também destacar, que muitas companhias aéreas brasileiras possuem dívidas em dólar. A valorização da moeda americana aumenta o valor dessas dívidas em reais, pressionado o balanço financeiro, dificultando a obtenção de crédito.

Efeitos na Lucratividade

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A desvalorização do real frente ao dólar reduz as margens de lucro das companhias aéreas, uma vez que suas receitas são majoritariamente em reais, enquanto grande parte dos custos é em dólar. Essa discrepância torna o mercado altamente vulnerável às oscilações cambiais.

Estratégias de Mitigação

Para enfrentar a volatilidade cambial, as companhias aéreas adotam diversas estratégias, como:

  • Hedge Cambial: Consiste em contratos financeiros que fixam a taxa de câmbio para transações futuras, protegendo contra flutuações inesperadas.
  • Hedge de Combustível: Similar ao hedge cambial, permite às empresas fixar o preço do combustível, reduzindo a exposição às variações de preço no mercado internacional.
  • Ajustes Operacionais: Incluem a otimização de rotas, melhoria da eficiência operacional e renegociação de contratos para reduzir despesas.

Impacto nos Preços das agens

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O aumento dos custos operacionais, decorrente da valorização do dólar, geralmente é reado aos consumidores na forma de agens mais caras. Estudos indicam que, em 2024, as tarifas aéreas atingiram níveis recordes no Brasil, refletindo a pressão dos custos dolarizados, o que pode levar a uma possível redução na demanda de ageiros, especialmente no segmento de lazer e turismo, que é mais sensível a preços.

O aumento nas tarifas também gera impacto na competitividade em voos internacionais, já que operadores estrangeiros podem ter custos menores em suas moedas de origem, especialmente em mercados concorridos como o de voos para os Estados Unidos e Europa.

Perspectivas Futuras

Apesar dos desafios, o setor aéreo brasileiro apresenta sinais de recuperação pós-pandemia, com crescimento no número de ageiros transportados. No entanto, a continuidade dessa recuperação depende de fatores como a estabilidade cambial, melhorias na infraestrutura aeroportuária e políticas que incentivem a competitividade no mercado.

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De toda forma, as previsões para o crescimento no número de ageiros transportados no Brasil em 2025 são limitadas. No entanto, a Associação Internacional de Transporta Aéreo (IATA) projeta um aumento global de 8% na demanda de ageiros aéreos em 2025, em comparação com 2024.

Para o Brasil, o Plano Aeroviário Nacional (PAN), lançado pelo Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, indica que, sem investimentos em infraestrutura, o sistema aeroportuário brasileiro só consegue atender à demanda de ageiros até 2025.

Embora não haja dados específicos sobre o crescimento percentual esperado para o Brasil em 2025, o setor aéreo brasileiro tem mostrado sinais de recuperação e crescimento nos últimos anos. Em 2023, as companhias aéreas transportaram 102,5 milhões de ageiros no Brasil, aproximando-se dos 108 milhões registrados em 2019, antes da pandemia.

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A Aeroflap fez um cálculo de projeção de ageiros transportados pelas companhias aéreas, levando-se em conta SOMENTE a variação do dólar, de forma a se ter algum comparativo, mesmo que simplório, do informado pela IATA para o cenário global.

Para projetar o número de ageiros a serem transportados mensalmente por empresas aéreas certificadas sob o RBAC 121 ao longo de 2025, analisamos a correlação entre a variação mensal do dólar e o número de ageiros transportados de janeiro de 2022 a outubro de 2024.

Análise dos Dados Históricos (Jan/2022 – Out/2024):

  • Taxa de Câmbio: Durante esse período, o dólar apresentou variações significativas em relação ao real, influenciando diretamente os custos operacionais das companhias aéreas, especialmente em itens como combustível e manutenção, que são cotados em dólar.
  • ageiros Transportados: Os dados da ANAC indicam flutuações no número de ageiros transportados mensalmente, refletindo tanto a sazonalidade do setor quanto os impactos econômicos decorrentes da variação cambial.

Identificou-se uma correlação negativa moderada entre a valorização do dólar e o número de ageiros transportados. Ou seja, meses com aumento significativo do dólar tendem a apresentar uma leve redução no número de ageiros, possivelmente devido ao ree de custos e à diminuição da demanda por agens aéreas.

Enfim, considerando a tendência histórica e aplicando modelos estatísticos que incorporam tanto a tendência quanto a sazonalidade observadas, estimamos o seguinte número de ageiros transportados por mês em 2025:

  • Janeiro: 8.500.000
  • Fevereiro: 7.800.000
  • Março: 8.200.000
  • Abril: 8.000.000
  • Maio: 7.900.000
  • Junho: 8.100.000
  • Julho: 8.600.000
  • Agosto: 8.200.000
  • Setembro: 8.100.000
  • Outubro: 8.400.000
  • Novembro: 8.300.000
  • Dezembro: 8.700.000

Contudo, observa-se:

  • Sazonalidade: Os meses de janeiro, julho e dezembro geralmente apresentam maior número de ageiros devido às férias escolares e festas de fim de ano.
  • Variação Cambial: Embora haja uma correlação entre a variação do dólar e o número de ageiros, outros fatores econômicos e sociais também influenciam a demanda por viagens aéreas.
  • Incertezas Econômicas: Eventos econômicos imprevistos, políticas governamentais e mudanças no cenário internacional podem afetar significativamente essas projeções.

O numerário acima, representaria um aumento equivalente a +1,86% em relação ao total de ageiros transportados em 2024 (calcula-se uma projeção para os meses de novembro a dezembro/24, já que não foram atualizados pela ANAC em seu respectivo , nada data de publicação desse).

O valor ficaria muito abaixo dos anos anteriores, já que houve um aumento de:

  • 21,4% de 2021 para 2022;
  • 8,2% de 2022 para 2023;
  • 5,4% de 2023 para 2024.

É evidente que em 2021 o setor iniciou sua recuperação após o impacto da pandemia do COVID-19, gerando um aumento de 21,4% em 2022, devido a retomada da confiança dos ageiros e aumento da demanda por viagens. Em 2023, o crescimento continuou, porém em ritmo mais moderado, sugerindo estabilização do mercado. Em 2024, a estimativa aponta para um aumento de 5,4% em relação a 2023, indicando continuidade na recuperação, embora em ritmo desacelerado.

Por outro lado, a Embraer projeta um crescimento anual de 3,3% até 2040 na receita por ageiro por quilômetro (RPK). Embora essa previsão seja de longo prazo, ela reflete uma expectativa de crescimento contínuo no número de ageiros transportados anualmente.

Em resumo, a valorização do dólar impacta significativamente os custos das companhias aéreas brasileiras, afetando sua lucratividade e a ibilidade das agens para os consumidores. A adoção de estratégias financeiras e operacionais eficazes é crucial para mitigar esses efeitos e garantir a sustentabilidade do setor.

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Rafael Payão

Autor: Rafael Payão

Analista do mercado de aviação executiva da Aeroflap. Consultor de vendas e compras de aerovanes da Aeroflap. É piloto (PLA) com mais de 3000 horas voo, formado bacharel em Aviação Civil pela UAM e pós graduado em engenharia de manutenção aeronáutica pela PUC-MG.

Categorias: Artigos, Companhias Aéreas, Companhias aéreas, Notícias, Setor Aéreo, Setor Aeréo, Turismo, Turismo

Tags: Companhias Aéreas, custos, Dólar, ageiros transportados, Projeção

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