Uma associação de aviadores e entusiastas de aviação está trabalhando para restaurar e colocar em condições de voo um lendário monomotor North American T-6 Texan que voou pela Esquadrilha da Fumaça da Força Aérea Brasileira (FAB).
O AEROFLAP conversou com Fernando Crescenti, presidente da REVOAR, grupo que busca a restauração de aeronaves brasileiras históricas. Crescenti, um aviador mais famoso nas redes sociais pelo seu trabalho artístico, já esteve engajado em outro trabalho de restauração em 2019.
Na época ele conseguiu angariar recursos para a reforma de um caça P-47D Thunderbolt, usado pela FAB durante a Campanha da Itália na Segunda Guerra Mundial.
https://www.facebook.com/galeriacrescenti/videos/812366445797184
Apesar de ter conseguido reformar o motor radial do avião de combate, Crescenti confessa que seu desejo era ver o “Bravo Quatro” voando novamente. No entanto, um decreto impede que as aeronaves do acervo do Museu Aeroespacial voltem a voar.
A frustração com o P-47 e a destruição de um Douglas DC-3 (PP-VBF) da Varig no Galeão motivou Crescenti e um grupo de amigos a criarem a REVOAR. A organização, cuja logomarca é uma fênix simbólica com a cauda do T-6 Texan, tem o objetivo de preservar a história aeronáutica do Brasil e impedir que eventos como o do DC-3 se repitam.

“Na mesma época [do DC-3] um soldado da FAB enviou fotos de um T-6 que estava abandonado no Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMA-SP), no Campo de Marte”, relata.
Ele conta que o grupo descobriu que o T-6 era da Esquadrilha da Fumaça, mas também “não era um T-6 avião qualquer”. Trata-se do FAB 1390, um T-6D Texan que foi a aeronave líder da equipe acrobática.
Por boa parte desse período o 1390 foi pilotado por Antônio Arthur Braga. Mais conhecido por Coronel Braga, o aviador ou 17 anos na Fumaça e é o piloto com mais horas de voo no T-6 a história.

Crescenti diz que as apresentações de Braga lhe inspiraram a se tornar um piloto e também destaca que o Coronel atuou para normatizar a acrobacia aérea no Brasil, num tempo em que os acidentes ocorriam com frequência nessa atividade. “O pessoal literalmente se matava. O Braga veio e mudou isso.”
Depois de negociações com o Comando da Aeronáutica — que também apoia o projeto com a Esquadrilha da Fumaça — a REVOAR conseguiu resgatar o “Tê-Meia” 1390, com apoio da empresa AGS Logística, especializada na movimentação e transporte de aeronaves.

A operação ainda resgatou outro avião, um Fairchild PT-19 de treinamento que também estava no PAMA-SP. As duas aeronaves foram levadas ao Aeroclube de Socorro, no interior de SP, onde a REVOAR opera em um hangar fornecido pela istração do aeródromo. O PT-19 é o próximo projeto da associação, e será reformado depois que o T-6 for restaurado.

Homenagem
Crescenti contou em primeira mão ao AEROFLAP que o T-6 já possui uma reserva de matrícula junto à Agência Nacional de Aviação Civil: PS-BRG.
As letras podem parecer simples e aleatórias, mas mais que um registro, são uma homenagem ao Coronel Braga, cujas manobras a bordo do 1390 são referência para outras esquadrilhas que ainda voam o T-6, uma aeronave que voou pela primeira vez em 1935 e foi usada por mais de 60 países.

“As manobras que o Braga fazia, só ele fazia. Ele é estudado fora do Brasil até hoje”, diz o presidente da REVOAR sobre o aviador que faleceu em 2003 aos 71 anos, vítima de câncer.
Recursos
Com o avião em mãos, a REVOAR começou em 20 de setembro a campanha para arrecadação de recursos para cobrir a reforma do T-6D 1390. A associação quer juntar R$ 250 mil, dos quais R$ 15.782 já foram doados por 48 pessoas.
Os valores no site para coleta de recursos variam de R$ 100 a R$ 10000 ou mais. Quem deseja colaborar ainda pode se associar à REVOAR por R$ 100 mensais ou doar qualquer quantia através de uma transferência Pix.
https://www.instagram.com/p/CinPloWObF2/
Depois de restaurado, o T-6, futuro PS-BRG, voltará a liderar a Esquadrilha da Fumaça, que hoje voa com os turboélices A-29 Super Tucano. Crescenti diz que a reforma do avião vai deixar um legado para seus filhos e netos, que não puderam ver os T-6 que, no ado, lhe inspiraram a se tornar piloto.
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