Hoje a Sonda Cassini entrou definitivamente para a história, a missão foi finalizada na manhã desta sexta-feira (15/09) através da entrada da sonda na atmosfera de Saturno, o planeta que ela tanto estudou nos últimos 13 anos.
O mergulho na superfície de Saturno é para extinguir qualquer possibilidade de contaminação biológica em outros locais que eventualmente podem receber vida, mesmo que seja não inteligente, como bactérias e fungos.

A grande gravidade do planeta acelerou a Sonda até ela se desintegrar, pegando fogo, antes mesmo de ser esmagada pela pressão da atmosfera, finalizando a missão que fez fotos extraordinárias de Saturno de suas luas, como a Titã, e também dos anéis, os sensores de alta resolução captaram detalhes dos anéis, que seriam impossíveis de serem obtidos à partir da Terra com a tecnologia atual.
A Sonda Cassini foi feita através de uma colaboração da ESA com a NASA, ou da União Europeia com os Estados Unidos. A sonda foi equipada com equipamentos de alta resolução, além de outros sensores de campo magnético e radiação para estudar melhor a atmosfera do planeta. Os equipamentos básicos da sonda podem ser vistos através da imagem abaixo.

A sonda foi responsável por olhar para as luas de Saturno como nenhum outro equipamento observou até o momento, nem mesmo a básica Sonda Voyager estudou tanto o planeta como a Sonda Cassini.
A missão
Em 1997 a sonda Cassini foi lançada em 1997, ela fez várias voltas ao redor da Terra e Vênus para pegar o famoso impulso gravitacional, usado pela NASA também em outras sondas, isso evita que a sonda precise ter muito combustível para chegar até o planeta desejado usando propulsão comum, com a gravidade dos planetas, a imagem abaixo explica bem como isso é possível.

Anteriormente as sondas Voyager e Pioneer já tinham estudado um pouco mais sobre Saturno e suas Luas, porém a baixa resolução das câmeras e os equipamentos primitivos utilizados não permitiram uma análise totalmente detalhada, além disso o tempo da missão em Saturno foi curto, nenhuma dessas sondas citadas ficou 13 anos estudando o planeta.
Para isso foi criada uma associação entre a ESA (Europa) e a NASA (EUA) para iniciar uma missão chamada Cassini-Huygens, é possível entender mais sobre isso com o histórico da missão, que falaremos mais abaixo. Em 1997 a nave foi lançada da Terra a partir de um foguete Titan IV.
Para pegar o impulso gravitacional, como citamos acima, a nave ou duas vezes por Vênus e uma pela Terra, deu uma voltinha no gigante Júpiter antes de chegar em Saturno e iniciar suas órbitas. A sonda alcançou nesta etapa a velocidade de 44 km/s em relação ao Sol, uma velocidade quatro vezes maior em comparação com a velocidade de escape da Terra.

Titã é uma Lua com atmosfera densa, mas tem tamanho parecido com a Terra, exatamente por causa da atmosfera as sondas têm dificuldades em estudar o solo do planeta, para isso a Cassini carregou a sonda Huygens, que basicamente pousaria no solo da Lua para estudar a atmosfera e enviar uma imagem do local para os cientistas. E descobrimos que o solo de Titã é bem parecido com o de Marte, sem muito relevo aparente e uma densa atmosfera.
A Cassini também descobriu detalhes da Lua Iapeto, que pode ter água em sua superfície em formato de neve. Já a Lua Enceladus tem gêiseres que ejetam água para fora da crosta do planeta, criando uma camada brilhante, gelada e espessa que compõe o anel E de Saturno, o diâmetro da Lua é pequeno, apenas 550 km em média.
Dados totais

Em toda sua vida a Cassini realizou mais de 294 orbitas em Saturno e outras tantas nas Luas do planeta, foram mais de 4,9 bilhões que quilômetros percorridos, colhendo 635 gb de dados científicos, inclusive fotos, isso é bastante analisando a capacidade da Deep Space Network, já que o delay de comunicação entre a Sonda e a Terra é bem grande (83 minutos), devido à distância de nós até Saturno, mas esses dados cabem em um HD de 750 gb facilmente.
No total 27 nações contribuíram com a missão, teve participação até de uma brasileira, que trabalha desde 1991 na NASA. Além disso 6 novas luas foram descobertas e 453048 fotos foram tiradas por lá, é uma quantidade bastante grande de fotos, que serão analisadas totalmente nos próximos anos.

Depois da Cassini agora sabemos que Saturno tem 53 Luas, sendo que mais 9 ainda não foram confirmadas.
O Gran Finale
As últimas órbitas da Cassini, que foram realizadas desde o dia 22 de abril, foram de extremo perigo para a sonda, depois de descobrir muitos detalhes sobre as luas, os cientistas decidiram aproximar a sonda dos anéis congelados de Saturno, para descobrir mais detalhes sobre a formação deles.
Digamos que os anéis de Saturno são formados por vários fragmentos de pedras, perto do planeta parecem poeira, e vendo de longe esse conjunto de pedras forma um anel que reflete a luz do Sol e causa uma curiosa sombra no planeta. Alguns detalhes são impossíveis de serem visto a partir da Terra, como o GIF abaixo obtido a partir de um sensor em preto-e-branco da Cassini, onde uma deformação no anel é causada devido a um objeto com maior diâmetro.

Os cientistas aproveitaram de um espaço de 2,4 mil quilômetros entre os anéis para conseguir ver de perto os movimentos, é bastante espaço, considerando que a sonda Cassini tem 6,7 metros de altura e 4m de largura, mas pouco se algum erro na órbita não foi estimado.
Mas perto do dia 15 de setembro órbita mais importante foi realizada, a Sonda Cassini se desintegraria na atmosfera densa de Saturno, tão densa que ela não chegaria nem a atingir as nuvens do planeta. Devido ao delay de comunicação, de 83 minutos, os cientistas da NASA e ESA programaram tudo antecipadamente, até os dados que deveriam ser enviados para a Terra e o alinhamento da antena com nosso planeta, para evitar que as informações fossem perdidas por um erro.

Então a Sonda iniciou o mergulho na atmosfera de Saturno, a previsão é que o contato com a Terra fosse totalmente perdido às 08h55, já contabilizando o delay. Por causa da grande gravidade de Saturno a sonda atingiria a velocidade de 113 mil km/h antes de se desintegrar a 1900 km de altitude da camada de nuvens.
Os cientistas precisaram aumentar a propulsão com intuito de frear a Sonda na entrada em Saturno, assim ela poderia coletar mais dados antes de colapsar, com menor velocidade a força de arrasto diminui. Então a Cassini perdeu contato com a Terra a cerca de 1500 km de altitude das nuvens.

Depois de se desintegrar, a Cassini virou pó, e provavelmente virou gás com a grande pressão do nosso planeta de anéis. Foram 2 minutos até seus fragmentos sumirem totalmente em Saturno.

Minutos depois os cientistas conseguiram receber os últimos dados científicos, de fotos foram poucas, visto que a prioridade era o envio de arquivos pequenos e com dados valiosos sobre a atmosfera de Saturno. As antenas da Deep Space Network foram apontadas especificamente para cobrir o final desta missão, como na imagem acima.
Visão geral da missão Cassini-Huygens

Galeria de fotos de Saturno
One last look…Explore the final @CassiniSaturn pics, taken just hours before its fateful plunge into the planet: https://t.co/kGtUEP9MQ9 pic.twitter.com/Iz2N525lf0
— NASA (@NASA) 15 de setembro de 2017