Sukhoi P-42: um Su-27 bastante diferente (e rápido)

Em 1986, a URSS modificou um Sukhoi Su-27 para quebrar recordes. O P-42 bateu diversas marcas, antes conquistadas pelo F-15 Streak Eagle dos Estados Unidos.

Desenvolvido na antiga União Soviética como resposta ao F-15 Eagle dos Estados Unidos, o Sukhoi Su-27 Flanker se destaca entre os aviões de combate mais capazes de sua categoria. Altamente manobrável e veloz, o jato de combate deu origem ao Su-35, hoje principal caça da Força Aeroespacial da Rússia. Mas no ado, o jato da Sukhoi também figurou em uma interessante disputa da Guerra Fria: a de recordes. 

A grande competição pela hegemonia entre EUA e URSS extrapolava a apresentação de equipamentos militares mais novos. Como num Super Trunfo, quem fosse mais longe e mais rápido ganhava também muito prestígio. 

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Nesse sentido, os dois países também disputavam os recordes da Federação Aeronáutica Internacional, a FAI. Em 1962, a Marinha dos EUA rompeu vários recordes de tempo de subida com o F-4 Phantom II. Mais tarde, em 1973, os americanos foram superados pelos soviéticos, que usando o Mikoyan MiG-25 Foxbat – modelo que até hoje é o caça mais rápido produzido – conquistaram a marca de 25 mil metros (82 mil pés) em 3:12 minutos, comparados aos 3:50 do F-4 americano.

Streak Eagle

Dois anos após serem ultraados pelo Foxbat da URSS, os americanos já estavam empregando outro jato de combate, o hoje lendário F-15 Eagle. A Força Aérea Americana pediu o desenvolvimento do F-15 especialmente para superar o MiG-25 em combate. No entanto, o jato da McDonnell Douglas (atual Boeing) foi usado além disso. 

F 15 Streak Eagle Record Flights

Chamado de Streak Eagle, o F-15 foi modificado para reconquistar os recordes da FAI. A USAF removeu todos os aviônicos e equipamentos dispensáveis para a missão; o mesmo serve para a pintura, com o avião ficando apenas no metal.

Entre janeiro de fevereiro de 1975, três pilotos de testes quebraram oito recordes de tempo de subida, para as marcas de 3000, 6000, 9000, 12000, 15000, 20000, 25000 e 30000 metros. No entanto, a permanência no topo do pódio não iria durar muito tempo.

O P-42

Em 1977, dois anos após as façanhas do Streak Eagle, voava o protótipo do Su-27. Designado T-10 pela Sukhoi, o modelo foi feito para desempenhar missões de superioridade aérea, uma resposta direta ao F-15. Também era capaz de carregar mais armas que seu adversário norte-americano e detendo uma performance geralmente similar. 

Após anos de testes e refinamentos, o Su-27 entrou em serviço com as Forças Aéreas da URSS, marcando o início da vida operacional de uma aeronave que ainda é bastante presente na atual VKS, logicamente em variantes mais novas. Um ano após a introdução ao serviço militar do Su-27, os soviéticos escolheram o novo caça para retomar os recordes conquistados pelo Streak Eagle da USAF anos antes. 

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Apesar do modelo diferente, a receita era a mesma: deixar o avião o mais leve possível para aproveitar toda a potência dos motores; No caso do Su-27, não era pouca: cada Saturn AL-31 tinha cerca de 27 mil libras de empuxo em regime de pós-combustão. 

Para detonar os recordes dos americanos, os russos removeram inúmeros componentes do Su-27, até mesmo a tinta. No final, o P-42 era duas toneladas mais leve que o Su-27.
Para detonar os recordes dos americanos, os russos removeram inúmeros componentes do Su-27, até mesmo a tinta. No final, o P-42 era duas toneladas mais leve que o Su-27.

Dessa forma, como feito no MiG-25 e com o F-15, os russos tiraram tudo do Su-27 que não fosse importante para a a missão: radar, aviônicos, IRST, cabides de armas e, novamente, até a tinta. As únicas marcas eram o P-42 na lateral da fuselagem e a bandeira da URSS na cauda. O avião era polido antes dos voos e todas as superfícies que poderiam causar arrasto aerodinâmico foram reduzidas. O combustível era cuidadosamente calculado, suficiente apenas para o voo planejado e nada mais.

Indo além, o Su-27 recebeu modificações estruturais significativas para perder peso, com substituição do radome por uma peça mais leve; refinos na estrutura do freio aerodinâmico; os slats (peças móveis no bordo de ataque das asas) foram substituídos por uma estrutura fixa; estrutura dos trens de pouso com material mais leve e remoção do paralamas; logicamente, o canhão de 30 mm e seu cofre de munição também foi removido. No cockpit, ficaram apenas os instrumentos mais básicos para um voo seguro.

Completamente modificado, o Su-27 quebrador de recordes recebeu um novo nome: P-42. Segundo o então projetista chefe da Sukhoi, Mikhail Simonov, o nome era uma homenagem à ação da aviação de combate soviética na Batalha de Stalingrado, em 1942, ponto de virada na Segunda Guerra Mundial. 

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Rompendo as marcas 

Com as alterações, o P-42 tinha um um peso máximo de decolagem em 14,1 toneladas, duas toneladas a menos que o Su-27S original.

O avião era tão leve, que os freios eram insuficientes para segurar a aeronave em solo. Para resolver o problema, foi adotada uma solução “russa”: o P-42 era preso a um trator pesado, por meio de um cabo de aço, que era solta no momento da decolagem, por meio de uma trava de eletrônica.

Entre outubro e novembro de 1986, o piloto de testes Viktor Pugachev estabeleceu oito recordes de tempo de subida à tabela de conquistas em apenas dois voos.  Foram quatro para aeronaves terrestres e mais quatro recordes para aeronaves com peso de decolagem de até 16.000 kg. Pugachev levou o P-42 aos 3000 metros em apenas 15,5 segundos e aos 6000 metros em 37,5 segundos.

Entre 1986 e 1987, o Sukhoi P-42 conquistou 26 recordes da FAI.
Entre 1986 e 1987, o Sukhoi P-42 conquistou 26 recordes da FAI.

No ano seguinte, sob os comandos do piloto Nikolai Sadovnikov, o Sukhoi P-42 subiu aos 9 mil metros em 44 segundos; 12 mil metros em 55,2 segundos e 15 mil metros em 70,3 segundos, sete segundos a menos que o Streak Eagle. Dessa forma, o P-42 bateu os números da FAI, estabelecidos pelos americanos com o F-15 anteriormente. 

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Ao todo, foram 26 recordes estabelecidos pelo P-42, incluindo os de tempo de subido até determinadas altitudes, com e sem cargas e altura máxima em voo horizontal. Além de Pugachev e Sadovnikov, também comandaram o caça modificado os pilotos de testes Oleg Tsoi e Yevgeni Frolov, coordenados pelo engenheiro chefe Rolan Martirosov. Os recordes podem ser conferidos no site da própria Federação, clicando aqui.

Com a conquista das marcas, a missão do P-42 estava então concluída, e com bastante êxito. O Su-27 modificado foi levado ao Museu da Força Aérea de Monino, onde permanece preservado. 

Gabriel Centeno

Autor: Gabriel Centeno

Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.

Categorias: Artigos, Militar, Notícias, Notícias

Tags: Recorde, Rússia, SU-27, Sukhoi

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